terça-feira, 14 de novembro de 2023

Eu ouço, você ouve e a gente nem falou disso antes. Isso é conexão




Tenho uma relação boa com gente bem mais jovem do que eu. Não tenho como explicar as razões dessa facilidade. Quando percebo, estamos falando de coisas que curtimos como se fôssemos da mesma geração. Como se fôssemos iguais.

Não sei se algum momento a gente vira uma chave dentro de nós e deixa de prestar atenção no que rola em torno e passa a se concentrar no que passou. Comigo essa chave enguiçou, se é que ela existe. Pelo menos na música. Vejo o que passou, acompanho o que chega e farejo o que está por vir. O fluxo não para.

Deve ser porque gosto muito de música. "Todo mundo gosta de música", alguém dirá. Sim. Mas é diferente. Tem gente que respira muito esse negócio, apesar de não ser um profissional da área. É como beber água. Música eu tomo todo dia. Em jejum, acompanhando uma refeição, durante a corrida, antes de dormir. É assim.

Por isso, valorizo muito quando me conecto a alguém por causa de um som, de uma banda, de uma trilha. Funciona comigo. Mais ou menos como acontece com cinema. No entanto, acho mais fácil encontrar quem adore Fellini do que quem tenha visto o show do Stereophonics em São Paulo. Bem mais tranquilo conversar com um estranho sobre Woody Allen ou Quentin Tarantino do que discutir com esse mesmo estranho qual o disco mais legal do Echo & The Bunnymen ou se curtiu o The Weeknd com o Daft Punk ou se ouviu o álbum do Arcade Fire que acabou de ser lançado ("já tá no Spotify") ou se teve tempo de apreciar a nova canção do Chico Buarque ("também tá no Spotify").

Tudo isso pra dizer que outro dia estava conversando sobre o Two Door Cinema Club com a filhotinha (eu tenho uma filhotinha que vai a shows, ao cinema, que vive com fone ligado nos streamings de música). Quando a gente fala de música do passado, em geral tem o nome de alguém que apresentou o som. Normalmente, sons novos seriam apresentados aos pais pelos filhos. Em casa, isso não é uma lógica.

Este texto foi originalmente escrito em 05 de agosto de 2017. Deixei no rascunho. Creio que nem terminei de escrever.
Vou publicar assim mesmo pq preciso renovar meu acesso a este Blogger.
Que coisa estranha pegar algo assim, do passado.





quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Antonio Brasileiro, maestro soberano

Não tenho ideia do momento em que conheci Tom Jobim. Provavelmente foi por causa das aulas de música que tive no Colégio de Santa Inês, onde estudei dos 11 aos 17 anos. Muitas coisas do cancioneiro brasileiro passavam ao largo por mim porque meus pais são estrangeiros. Claro, eles podiam ter conhecido alguns dos grandes artistas do país. Mas não foi isso que aconteceu (em compensação, conheço muitos cantores latino-americanos, nomes que vários dos meus amigos demoraram a apreciar).


Crédito: Instituto Antonio Carlos Jobim

Entre os 11 e os 12 anos, tive aulas de música com a irmã Maria José. Que tempos. Qual escola hoje teria na grade curricular aulas de música? Aprendi a identificar notas, gêneros musicais, história da música. Eu sabia o que eram as partituras e os valores das notas, dividia compassos, reconhecia instrumentos – mas essa parte eu sabia por causa do meu pai, que tinha um disco de música clássica que ensinava isso.

Nas aulas da irmã Maria José a gente também cantava, como coral. Ensaiávamos músicas. A irmã no piano e na regência. Muitas vezes, ela gravava os alunos. Ela escolhia as canções. Algumas vezes o resultado era bem bom. Lembro de termos cantado Águas de Março. Eu tinha adorado a música. Não a conhecia. Foi meu primeiro contato com Águas de Março na interpretação famosa de Tom e Elis. Confesso que não me recordo se eu já reconhecia o nome Tom Jobim naquela época. Porém foi a partir das aulas da irmã Maria José que eu compreendi quem era Antonio Brasileiro.

Levou um século para eu poder ter um disco do Tom Jobim. Não porque não me interessasse. Mas porque comprava outras coisas. E dinheiro era contado. Então, botei um monte de gente na frente do Tom. Não me arrependo, não. Fazia parte do meu desenvolvimento. Quando, enfim, comprei, escolhi Passarim, que considero um dos melhores álbuns que existem dentre todos os brasileiros já lançados (não sou crítica musical, mas  me sinto à vontade para dar palpites).

É uma obra-prima. Ouvi tanto que sabia a ordem das canções. Hoje, minha memória já não evoca assim facilmente a lista das músicas. É preciso treiná-la de novo.

Antonio Brasileiro nasceu no dia 25 de janeiro. Faria 90 anos. Morreu em 8 de dezembro de 1994, em Nova York. Minha vida em 1994 era muito atribulada. Tinha um filho pequeno, meu primeiro. Estava em transição na carreira. Estava em transição comigo. Não acompanhei bem a morte do maestro. Não me recordo como foi a comoção - mas sei que abalou o Brasil. Eram tantas as coisas em que prestar atenção naquele tempo. De todo modo, em meio às minhas confusões todas, senti a morte dele. Passarim é de 1987. Durou bastante o álbum pra mim. Foi ecoando, ecoando, ecoando... Ainda ecoava naquele 1994.

Hoje já não o ouço como no passado. Acumulou poeira na correria da vida. Lástima. Mas neste dia vale muito a pena resgatá-lo. Agora via streaming!

Difícil escolher as músicas de Tom para entrar aqui. Gostaria de colocar Chansong. Ou Bebel. Luiza eu postei no Facebook. Acho que vou ficar com...

Passarim




Também não tenho como fugir de Águas de Março. Por uma questão de lealdade sentimental. Adorava as aulas de música da irmã Maria José. Quem daria essas aulas hoje? Coisas boas devem ser elogiadas.



E não posso deixar de colocar Samba do Avião (com direito a Danilo Caymmi) e Ela é Carioca (na versão de Os Cariocas, que adoro). Primeiro porque nunca haverá melhor música para se pensar quando a gente vê o avião prestes a pousar. E porque Ela é Carioca eu cantava às vezes sozinha no passado, distraída, até em bar, pensando que seria legal estar num coral.






domingo, 13 de março de 2016

Mumford: o show que vale por um festival inteiro

"Cause I will wait, I will wait for you" - e vou esperar ainda mais. Mas volta logo, Mumford

Quando saiu o line-up do Lolla Brasil 2016, confesso que fiquei reticente. Tinha apenas uma banda que diria: "nossa, verei de cabo a rabo, e o mais perto possível do palco". Era o Mumford and Sons. Não esnobo, nem acho ruim muitos dos grupos e artistas do festival deste ano, a quinta edição no Brasil. Não! Alabama Shakes está na minha lista pra ver inteiro também, mas não com o mesmo afã gerado pelo Mumford. Florence and The Machine é headliner da segunda noite. Porém eu já vi a Florence uma vez. Gostei, só que não é algo que embale meus sonhos atualmente. Estou mais interessada em ver o Planet Hemp, que, na última hora, entrou no lugar do Snop Dogg (que não chamaria minha atenção). Florence estará no palco Skol e Planet Hemp, no Axe, pertinho um do outro.

O vocalista Marcus Mumford tocou 200 mil instrumentos e comandou a plateia

Ok, esse preâmbulo foi pra dizer que já curtia muito o Mumford and Sons e estava realmente ansiosa para vê-los. Não entendi por que a organização do festival não colocou a banda como headliner. Verdade que eles fizeram a última apresentação do palco Onix, que fica láááá no fundo, para quem entende da geografia do Lolla em Interlagos. Mas fecharam a noite Eminem e Marina and the Diamonds (o Kaskade tocava no palco eletrônico também, na mesma hora).

Mas quer saber? Melhor não ter sido headliner porque saí nas nuvens e ainda sem pegar o sufoco dos carros todos querendo ir embora do Lolla (ainda assim rolou trânsito nos arredores de Interlagos).

Marcus Mumford, vocalista do grupo, tocou e cantou para uma plateia de convertidos. Acho que o termo cabe bem aqui. Nem por isso deixou de fazer um show impecável. Em alguns momentos, entre um gole e outro de água (meu palpite), eu sentia um gap um pouco maior do que recomendaria. Fazia aquele "branco". Porém isso foi mais no início e acabou não fazendo diferença no final. Esses gaps deviam ser mais minha vontade de ouvir mais. Sei que todo crítico de música diz que os dois primeiros álbuns são mais folk e o último é mais pop. Ou seja, elogios para os dois primeiros e uma carinha assim-assim por terem "se rendido ao pop". Para o público, no entanto, as duas fases - se é que podemos falar assim - foram igualmente boas. Muitas canções foram entoadas pelo pessoal. O povo sabe as letras! Show bom é isso: sintonia plena entre banda e público. Foi o que aconteceu no palco Onix.

Em dado momento, o tecladista (Ben Lovett) disse que eles nunca tinham visto uma plateia como aquela. Ok, você já ouviu isso antes (se frequenta shows com gringos). Mas aquilo era real. Ou pelo menos dava essa impressão. Se o Lovett sentiu, eu também senti.

Lovett e Marcus impressionados com a recepção

A hora mais bonita foi quando tocaram Believe (abaixo o vídeo que fiz e subi no YouTube), do álbum novo (Wilder Mind, o tal pop). As luzes dos celulares tomaram o ambiente como os velhos isqueiros dos shows do passado. Como o palco Onix tem um morro grande, até onde se estendia o olhar havia aquelas pequenas luzes, quase estrelas, fazendo uma coreografia de emocionar o John Wayne (opa, talvez um exagero a comparação).



Aliás, havia muito coração na plateia. Muita gente se abraçando, se beijando, casais hetero e homo. Gente cantando baixinho colado no rosto amado ou mergulhada nos braços do (a) outro (a), sonhando junto alguma coisa boa. Outra característica: muitas camisas listradas. Eu senti falta de estar com uma. Hoje, talvez embarque na moda.

A vibe estava tão boa que o povo do palco retribuía o carinho do povo da plateia com aqueles gestos de agradecimento: mãos erguidas, mãos no coração, "obrigados". Aí, eles dizem que é a primeira vez no Brasil e que este é o país favorito deles. Dizem que vão voltar. Claro. Viram o que tem aqui, meus caros? Tem de voltar mesmo.

Em Ditmas, Marcus Mumford - que já havia tocado de tudo (inclusive bateria e pandeiro) - tocou fogo no show. Saiu do palco e foi para o chão, correndo de um lado para o outro, sendo agarrado pelos fãs mais alucinados. Os seguranças todos doidos tentando proteger o homem e, de repente, no telão você vê o pai da Sandy, o Xororó, com um baita sorriso de satisfação. (Ah, o que ele fez para conseguir chegar lá na frente? :P rsrsrs).

Um mergulho na multidão (reprodução do telão)

Em outros momentos, havia devoção no espaço. Como quando rolou Ghosts That We Knew (fiz um vídeo curto para mostrar). Se tinha alguém quase se convertendo, naquela hora virou... (Observação: quando as músicas ficam mais calmas, nota-se como tem gente que esquece que show não é lugar para ficar batendo papo como se fosse bar. Trocar impressão, claro, tá valendo. Mas atualizar a conversa, no, pls).




Que mais? Teve o momento fã, em que uma garota, Isabel, foi chamada ao palco. A mulher delirou. Abraçou todo mundo, gritou, foi chamada para traduzir o Marcus e, aí, louca, falou no microfone em inglês que iria traduzir para o pessoal. Duhhh. Ahahahah. Ela se tocou na sequência e falou português. Foi Isabel quem traduziu, aos berros, que o Brasil é o país favorito dos Mumfords. A mulher estava tão alucinada, mesmo na hora de deixar o palco, que o vocalista encheu a boca de ar e depois soltou como quem fala: "Jesus, tá doida". Eu estava imaginando ele pensando: "ok, Isabel, we love you, but leave the stage, pls". Na verdade, ele comentou algo como "ahn, precisamos trabalhar". Outro momento fã foi quando outra mulher surgiu no palco. Ela tinha invadido (na hora de The Wolf, já no bis) para dizer algumas coisas em inglês, na linha "We will wait for you".

Por sinal, I Will Wait foi o ápice. Energia em alta, vozes do público chegando no céu (ah, os meus exageros), a banda vibrando, o chão tremendo... papel picado voando. Aquela estrela lá no alto (seria Sirius?). Foi épico. O show do Mumford And The Sons valeu por todo o festival. Pelo menos pra mim.



O setlist ficou assim (peguei do Tenho Mais Discos Que Amigos):

01 – Babel
02 – Little Lion Man
03 – Below My Feet
04 – Wilder Mind
05 – Lover of the Light
06 – Snake Eyes
07 – Tompkins Square Park
08 – Believe
09 – Ghosts That We Knew
10 – Awake My Soul
11 – The Cave
12 – Roll Away Your Stone
13 – Ditmas
14 – Dust Bowl Dance
Bis:
15 – Hot Gates
16 – I Will Wait
17 – The Wolf


OUTROS SHOWS

Of Monsters and Men, banda islandesa indie, foi uma bela surpresa. Não pelo som, que já conhecia e apreciava (Dirty Pawns é minha favorita). A surpresa foi ver o espaço do palco Onix tomado de gente. Mas era muita gente mesmo. O som deles até prepara para o Mumford and Sons (eles se apresentaram antes). 

E essa multidão?! Parabéns, Monsters

O público, mais uma vez, sabia um monte de letras. Cantavam junto com a banda. Ponto para o Monsters. Gostei bastante. O ponto ruim é que o som não estava muito legal. Saía baixo. E pelo estilo musical do grupo isso chega a ser pecado. Fiquei longe (não dava para tentar nem sequer uma aproximaçãozinha do palco). Tinha gente sentada na canga, na grama, curtindo a música mesmo sem ver a banda.

Foi uma bela maneira de começar o festival (no meu caso. Não cheguei tão cedo assim). A banda terminou com Little Talks e foi ovacionada. Daí, todo mundo saiu correndo para o Tame Impala no palco Skol (oh, não foi quase todo mundo, mas que parecia, parecia). 

Bom, queria dizer que o show do Tame Impala foi lindo. Mas não vou conseguir. Isso de ser obrigada a se deslocar entre os palcos, mata algumas coisas. A gente chegou com o show já começado. Ficamos no espaço da Skol, em frente ao palco homônimo, curtindo de longe. Estava legal, só que era preciso sair bem antes do final para poder garantir um bom lugar no Mumford. Foi essa a decisão estratégica que tomamos, eu, minha irmã e minha filhotinha. O pouco que vi foi bacana. Estava numa pegada mais intimista. Combinava também com o clima do Of Monsters (o Tame Impala tem outras canções bem mais agitadas). A Rolling Stone conta que o Tame Impala hipnotizou o público com sua psicodelia. 

Tame psicodélico
E o Eminem? Aqui vale uma crítica. Não. Não tem a ver com o artista. O som estava ruim. Muito grave para o meu gosto. Assim, ficou difícil apreciar como se devia. Já curti alguns sons dele no passado. E, ora, ora, ele cantou Criminal, um desses hits velhos que eu tinha no meu computer. Como muita gente ficou no Mumford até acabar o último acorde do bis, isso implicou em ver um monte de pessoas transitando, se ajeitando, indo de um lado para o outro. E ainda havia Marina and The Diamonds, no palco Axe. Na minha avaliação, isso dispersou um pouco a energia do festival. Depois, sim, o Eminem "compactou" mais o público. Havia fãs fieis ali, desejando um ou outro som em particular.

A mim não empolgou. Passei pela Marina. Parecia mais bacana. Mas o Mumford tinha bastado para mim. Já tinha valido o ingresso.

CENAS DO #LOLLABR


O morro, a marca e a roda da Chevrolet - as marcas queriam ficar bem na foto, lógico

Estilo: camisas quadriculadas ou listradas deram o tom

Entretenimento para o povo, como o carrossel da C&A

Parceiras de show

Momento relax
Pausa para a selfie
Pessoal fez fila para conhecer espaços como o da Skol
Deviam ter ensinado o Marcus Mumford a dizer "valeu". Tudo bem. Aqui vai o meu: valeu, pessoal


Tem ainda o segundo e último dia do Lolla 2016.

Na minha programação terei mais tempo para circular (acho). Espero que não chova, como foi no sábado. Havia lama, sim, no entanto, dava para andar. Se chover, aí vou pensar no que passa o público de Glastonbury.

Minha maratona começará com Walk The Moon. Depois um pulo no Twenty One Pilots. Aí, vou cavar um bom lugar para o Alabama Shakes (meu maior desejo hoje). Acabou o Alabama? Vamos lá ver o Noel Gallagher e os High Flying Birds, que já vi uma vez (e tinha curtido). Em seguida, vou de Jack U. Mas vou aproveitar para dar um pulo no Emicida (eu quero ver o Emicida). Eu sei que os palcos são distantes. Porém tenho pernas resistentes (sou corredora). Pra finalizar, outro pulo entre palcos: primeiro Florence e então Planet Hemp. 

Acho que vamos amargar um trânsito pesado na saída de Interlagos. Isso não vai ser legal. Bate um cansaço enorme. É quase como sair de uma cidade para a outra. Mas paciência. É o que se precisa ter em festivais. Outra vez nesse pique só no ano que vem. Se eu for. Fui a todos os dias do Lollapalooza no Brasil. Todos os dias de todas as cinco edições. Sou especialista. Quem mais tem essa expertise?






segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Quando Bowie fala pela gente

Nestas tristes horas em que ainda estamos surpreendidos pela morte de David Bowie, muitos fãs (eu entre eles) lembram de momentos em que ele falou pela gente ou nos falou quando precisávamos de uma pausa para respirar ou para expressar uma sensação (seja ela qual for). Momentos em que uma música, um vídeo, uma frase significaram mais do que conseguiríamos dizer na sessão de terapia.



Reúno alguns desses momentos, sabendo que não vão bater com o de diversos fãs. Cada um tem seu motivo, afinal. Reconheço também que num dia como hoje o mundo vai escrever sobre Bowie. Este meu texto, portanto, seria um grãozinho de areia ínfimo e desprezível até, em certo sentido.

Mas eu sinto necessidade de escrever. Sorry, people.

1. Space Oddity - "Ground control to major Tom". Essa frase ficou marcada na infância dos meus filhotes. Ouvia muito essa canção em casa (acho que estava numa fase de retorno a Bowie). E quando os dois iam para a escola conduzidos por uma das tias essa era uma das músicas que tocava sempre no som. Provavelmente é a primeira música que eles conheceram do Bowie. Creio que é a música do Bowie que mais toquei na vida. Várias vezes fiquei intrigada com a letra, tentando entendê-la sob um outro ângulo (Bowie ficara fascinado pela corrida espacial). Major Tom estava tão maravilhado pelo que estava vivendo que praticamente abdica da vida. "I'm stepping through the door and I'm floating in the most peculiar way and the stars look very different today". E depois tem essa parte: "Tell my wife I love her very much, she knows". E adeus, Major Tom. Não é intrigante? Ele ama a mulher, mas não dá. Aquilo é mais forte do que tudo. É uma música para a gente se largar no espaço. Para esquecer todo o resto.



2. Absolute Beginners - esta canção faz parte de um filme. É dos anos 80, década em que me formei musicalmente. Quer dizer, já ouvia muita música antes. Mas foi nesse período em que estudei mais, em que li, em que procurei aprender. Antes, era mais uma absorção por osmose de um monte de coisa que chegava até meus ouvidos. O filme é de 1986. Logo de cara curti a música homônima. O longa não me entusiasmou tanto assim. Tempos depois, fiquei com a letra na cabeça. Porque ela fazia muito sentido numa certa fase da vida, apesar de eu já não ser novata na estrada. O que aconteceu é que a tal love song não sobreviveu à montanha. Aprendi que estou sempre aprendendo. Sou beginner.


If our love song
Could fly over mountains
Could laugh at the ocean
Just like the films
There's no reason
To feel all the hard times
To lay down the hard lines
It's absolutely true



4. Where Are We Now - vou nessa já que a pegada está sentimental (give me a break. A notícia da morte dele nos chegou hoje). Quando ouvi essa canção do penúltimo álbum dele, chorei. Achei uma melodia triste, forte. E a letra também me fez verter mais lágrimas. Escrevi um post a respeito na ocasião. Às vezes me pego pensando nessa música (no tal post tem a letra). Porque tem horas que dá vontade de desistir (de algo). Dá desânimo. Porém você tenta lembrar de que existem coisas que conseguem te resgatar. Enquanto houver sol. Enquanto houver chuva. Enquanto houver fogo. Enquanto eu existir. Enquanto existir você.




3. As The World Falls Down - música da minha juventude, do filme Labirinto (1986). Quando era adolescente achava que assim poderia acontecer o amor. Você girando por um ambiente, tentando entender quem é aquela pessoa que te cativa. E aquela pessoa que te cativa te observando. É romântico, eu sei. Mas eu era uma principiante na vida. Quando vi a cena com Jennifer Connelly, uma menina quase da minha idade (pelo menos no filme), no baile de máscaras, imaginava se existiria um homem como David Bowie. Achava que não.



4. Under Pressure - você está sob pressão e lembra desta canção. Quer dizer, eu lembro. Lembro também quando falam de grandes vozes. Grandes nomes da música. Mais uma vez, esta escolha se liga à década de 80. Tenho apreço já por esse fato. Mas é um pedido para cedermos menos ao estilo de vida que nós nos impomos e que nos acelera e nos torna surdos para uma série de coisas. Só por ter Freddie Mercury e David Bowie este hit entra para um status diferente no panteão das melhores músicas.

Because love's such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves
Under pressure
Under pressure
Pressure



5 - Wake Up - escolhi uma música do Arcade Fire, que já adorava. Mas quando vi um vídeo da banda canadense com o Bowie, aí casou total. Essa música me dá vontade de ir para o alto de um morro, olhar o horizonte e simplesmente ficar quieta. De preferência com meus monstros do lado (uma referência ao filme Onde Vivem Os Monstros, do Spike Jonze, em que essa música embala uma cena assim). É que, confesso, às vezes não sou fácil. Bem, sou de fácil convívio social. Sou gentil. Mas tem hora que eu só quero ficar no meu mundo particular. Aí, não tem jeito. Não quero sair. Não quero falar. Não quero nada, exceto esse mundo. Fico alheia e não permito a entrada de outras pessoas nesse meu planeta exclusivo. Estamos lá eu e meus pensamentos escapistas. Quando vi que Bowie gostava bastante dessa música (tanto que procurou a banda para tocarem juntos), fiquei feliz. Sintonia.


Somethin’ filled up
my heart with nothin’.
Someone told me not to cry.


But now that I’m older,
my heart’s colder,
and I can see that it’s a lie.


6 - The Loneliest Guy - considero Wake Up pra cima, de certo modo. Poderia colocar outras tantas canções "pra cima". Tem as dançantes (Modern Love, China Girl, Let's Dance). Tem as clássicas, como Life On Mars, Rebel, Rebel, Five Years, Ziggy Stardust, Ashes to Ashes, Heroes, Sound And Vision, The Man Who Sold The World. Tem as mais recentes. Tem as últimas (Blackstar é uma porrada - passei o domingo ouvindo o álbum inteiro. E eu nem desconfiava que seria o último dia de vida do David Bowie). Mas acho que vou de The Loneliest Guy da turnê The Reality Tour. É um disco tão bom. Quer dizer, eu curti tanto... Teria amado ver essa turnê. Além disso, essa música me fez pensar muito também - no período em que comprei o álbum do show eu estava muito isolada do mundo. Para este post, escolhi um vídeo que, de quebra, vem com I'm Afraid of Americans.

All the pages that have turned
All the errors left unlearned, oh
Well I'm the luckiest guy
Not the loneliest guy
In the world
Not me




7 - Forbidden Colours - não é exatamente David Bowie. Mas tem tudo a ver. Vi "Furyo, Em Nome da Honra" (1983) também adolescente. O título original é "Merry Christmas, Mr. Lawrence". Deve ter sido uma das primeiras vezes - ou talvez a primeira - em que vi o amor por alguém do mesmo sexo. Foi num filme, não na vida real, é verdade. Mas marcou demais pra mim. E a música do Ryuichi Sakamoto é fenomenal. A canção fala por mim pelo tema do amor proibido. A beleza das notas e da cena em que Bowie beija Sakamoto foi o suficiente pra mim na época. Hum, de novo o romantismo da adolescência. Convenhamos, porém, que forte é isso de sentir algo por alguém e, ao mesmo tempo, tentar sufocar a emoção de todo jeito.


Esta lista não tem nada de especial, de fato. Foi só uma relação de músicas e vídeos que vieram à mente. Não tem a pretensão de fazer crítica musical. Ou de apontar os elementos inovadores do trabalho de Bowie. Que cada um faça sua escolha de música, pelos critérios que quiser. Porque eu tampouco tive o objetivo de estar de acordo com o pensamento geral. Bowie é tão camaleônico que cabem variadas interpretações para sua obra, que é infinita. E bela.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Eletrônica com música clássica? Teste aqui

Frame do vídeo abaixo
Fizeram e deu certo. Eu achei, pelo menos.

São estas as músicas que a Heritage Orchestra tocou no Royal Albert Hall, em Londres, no evento The BBC Prom. Este ano eles resolveram fazer uma coisa assim... Ibiza:

1. Fatboy Slim – Right Here, Right Now
2. Eric Prydz – Pjanoo
3. The Shapeshifters – Lola’s Theme
4. Robert Miles – Children
5. ATB – 9 PM (Till I Come)
6. Moby – Go
7. Frankie Knuckles – Your Love
8. Inner City – Good Life
9. Orbital – Belfast
10. The Sabres of Paradise – Smokebelch II
11. Daft Punk – One More Time
12. Alison Limmerick – Where Love Lives (Come On In)
13. Vangelis – Rachel’s Song (Perfecto Symphony Orchestra)
14. Moby – Porcelain
15. Faithless – Insomnia
16. Rudimental – Waiting All Night
17. Stardust – Music Sounds Better With You
18. Rhythm is Rhythm – Strings of Life
19. DJ Rolando – Jaguar (Knights of the Jaguar)
20. Brainbug – Nightmare
21. Energy 52 – Café del Mar
22. Rudimental – Feel the Love
23. The Source – You Got the Love

domingo, 1 de março de 2015

Where do we go from here

Algum tempo atrás ouvi uma canção de um sujeito que não conhecia. A música se chama Sort Of Revolution. E o cara tem o nome de Fink. Conheci porque estava ouvindo um serviço de streaming (o Blip.fm, que não tenho acionado muito ultimamente) e porque resolvi escutar o som dos meus "amigos". Foi um achado bem ao acaso.

Já falei do Blip e de como ele me ajudou a descobrir coisas. Não é simples desse modo em outros serviços que tenho usado. Não funciona tão legal no Spotify, apesar de ele ser ótimo. Esse tipo de descoberta dá mais certo no Deezer. E de jeito nenhum no Rdio, já que não consigo usar o streaming direito (que se dirá conhecer novos sons interessantes).

Ter encontrado o Fink dessa maneira, via Blip, foi bom e foi ruim. Bom porque gostei de Sort Of Revolution. Ruim porque, no final, não tive outras músicas dele apresentadas na hora. Parei naquela uma. Meus amigos tocam muitas músicas diferentes a cada momento que se conectam.

Fink e sua guitarra. Anos como DJ e depois uma virada para o mundo acústico


Descobertas se dão de formas muito díspares, às vezes. Eu estava no cinema, emocionada com o filme Selma (viram? Não? Deveriam ver). Cenas fortes acontecem numa determinada ponte. Lá pelas tantas ouço um som, que me comove. Não tinha como saber do que se tratava. Celular estava desligado. E, como mudei de aparelho, também não tinha o Shazam instalado.

Só que eu sou persistente com esse negócio de música. Fui atrás. Pesquisei. Fucei. Encontrei a trilha sonora do filme. Bati o olho. Joguei com as possibilidades e, enfim, deu match. Era o Fink.

Quem diabos é Fink? É um cantor, compositor, guitarrista, produtor e DJ inglês. O nome real é Fin Greenall. Nasceu na Cornualha (acho o máximo esse nome) e hoje vive entre Berlim e Londres (que beleza). De 1997 a 2003, diz a Wikipedia, ele atuou como DJ. Aí, ele foi mudando. Partiu para o acústico. Em 2006, formou um trio, com o nome Fink a frente. Fez parcerias daqui e de lá. Em 2012, ele se apresentou com a Royal Concertgebouw Orchestra, em Amsterdã. Foi algo digamos espetacular. Quer dizer, para mim pareceu espetacular. Isso gerou um álbum. Uma das canções executadas foi Yesterday Was Hard On All Of Us. Essa é a música, nessa versão com a orquestra, que aparece em Selma.

A apresentação com a RCO virou referência, álbum, menina dos olhos


Fink é um artista folk. É uma explicação genérica, admito. Tem uma pegada blues por vezes. Noutras horas lembra seu passado como DJ. Faz algumas experimentações. Não me parece ser um sujeito de grandes arroubos no palco. Não vai sair destruindo instrumentos. Não vai se jogar na plateia (suspeito). Talvez nunca seja headliner de um festival no Brasil. Mas bem poderia pintar por aqui (eu veria). Fink tem uma bela voz. E uma ótima guitarra. Se vale minha recomendação, sugiro que tentem ouvir. Ele tem site e está na mídia social. Basta procurar.

Curto bastante outras canções que ele fez. Pilgrim e Shakespeare, por exemplo. Tem mais para conhecer. Como diversos cantores destes tempos do streaming, Fink coloca suas músicas para download (não todas). Já baixei algumas. Por ora, minha preferida continua sendo Yesterday Was Hard On All Of Us. É um tanto melancólica, embora no filme tinha sido usada num contexto diferente. Ah, não sei explicar. O que sei é que me emocionou na hora.

Gosto particularmente da frase "Where do we go from here".


"Yesterday Was Hard On All Of Us"



Where do we go from here
Where do we go
Is it real or just something we think we know
Where are we going now
Where do we go
Cos if it’s the same as yesterday you know I’m out
Just so you know
Because
Because
Our paths, they cross
Yesterday was hard on all of us
On All of us

Who can we trust from here
Who can we trust
Are you real or something from wanderlust
Who can you can we trust my dear, sweet, flower
Who can you trust
From cradle to grave
From ashes to ashes, from dust to dust
Because
Because
Our paths, they crossed
Yesterday was hard on all of us
On All of us



Where do we go from here
Where do we go
We’ve got nothing we can trust and nothing we can sell
That’s for sure
How do we get out
How do we move around with all these eyes on us
Tell you what, you go first
Almost like it’s kind of rehearsed but
It’s not, no
Because
Because
Our paths, they cross
Yesterday was hard on all of us
On All of us


Se alguém estiver curioso em relação ao filme Selma, segue abaixo um trailer. Outra música boa do longa é Glory, do John Legend com o Common. 


Ah, e voltando ao Fink: tem aqui uma apresentação dele num festival em 2014. Para quem realmente estiver disposto a saber mais.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

In Spite of Me

Um filme me levou a esta música: In Spite of Me, do Morphine.

Vamos às explicações. Eu tinha recebido de presente de aniversário um CD dessa banda americana (que surgiu em Cambridge). Não lembro quando foi, mas o importante é contar que alguns dos meus amigos sabem como sou ligada em música e procuram me dar um CD, um disco ou algo relativo a música em novembro, mês do meu aniversário. Eles até temem repetições ("você já tem esse?" é uma pergunta comum). Nesse caso, eu não tinha nada do Morphine. Então, foi um belo presente. Curti o som e a voz do Mark Sandman, que também era o baixista da banda. O cara já não está mais entre nós. Eita. Quando ganhei o álbum, Sandman já havia morrido. Ao ouvir o tal CD, teve uma coisa meio mórbida. Puxa, uma voz que não existia mais, exceto por aquilo que está gravado. Mas era interessante independentemente disso. Curti o som, só que esqueci.

Morphine em ação. Sandman no baixo e no vocal

Um aspecto interessante da música do Morphine é a mistura entre rock e jazz. Tem algo meio down. Talvez essa não seja a palavra adequada. Morphine tem um quê de melancolia. Não sou boa para explicar essas coisas em termos mais técnicos. Como se classifica o estilo de algo assim? Se falar blues, a ideia é outra. De todo modo, outra coisa de que gostava é quando entrava um sax no som. Aliás, adorava. Caía muito bem.

Mas sobre essa canção em questão, a que cito logo de início... Bom, eu não a conhecia. "In Spite of Me" está num álbum chamado Cure For Pain, que é um ótimo título (música pode ser cura para diversas dores). O tal CD que ganhei não era esse. Por isso, essa canção não tinha chegado até mim.

Aí, um dia fui ao cinema com uma amiga ver um filme alemão. Era "Aprendendo a Mentir". Foi nele que ouvi "In Spite of Me" pela primeira vez.

BTW, cinema também é uma coisa que adoro. Verdade que eu e toda minha geração adoramos porque com meus amigos mais íntimos é assim: você pergunta de um filme e quase todos viram e sabem algo a respeito do diretor ou um detalhe a mais do filme ou um longa filmado antes pelo diretor ou outra produção que tem a ver, seja pelo roteiro, pelo contexto, pelo ator principal. Eu até me sinto meio atrasada com esses amigos. No entanto, não fico mal. Essas amizades são tão sinceras que, para mim, o que vem é sempre aprendizado. Nunca cobrança. E, além de tudo, esses amigos são divertidos. Não tem chatice quando discutimos cinema.


Cena do filme Aprendendo a mentir, com o personagem Helmut

Vamos ao filme. Não sei quantos viram "Aprendendo a Mentir" (Liegen Lernen). É uma produção de 2003 praticamente toda ambientada em Berlim. É a história de Helmut, um cara que, no colégio, se apaixona por uma colega. Tem um forte envolvimento com ela, mas a garota parte para os Estados Unidos e ele fica mal, mal, mal. Com o tempo, Helmut se envolve com outras mulheres. Conhece gente legal, mas tem o fantasma da antiga namorada perturbando as relações. De repente, ele começa a inventar várias histórias enquanto tenta se reencontrar. Salvo engano, a antiga namorada reaparece. Faço essa observação porque já faz tempo que vi o filme e não me recordo mais dos detalhes.

"In Spite of Me" está numa cena que achei bela. É uma pista de patinação no gelo. Helmut e um de seus amores se divertem, patinam, riam e acabam no chão. Tudo isso ao som do Morphine. Ficou tão bacana tudo que amei a cena. E fiquei com a música na cabeça. Logo tratei de arranjá-la para mim. Não lembro como fiz para tê-la (pedi para alguém? Baixei?). Sei que tenho essa canção em formato MP3. Não tenho o dito álbum.

Mais uma cena de Aprendendo a Mentir. Não sei se é fácil encontrar o filme por aí

Quando ganhei aquele do CD do Morphine, lá atrás, embora tenha curtido o som, eu não tinha me aprofundado a respeito da banda. Sandman morreu em 1999, na Itália, de um ataque cardíaco durante um show. Tinha 46 anos. Cure For Pain foi lançado seis anos antes. Era um álbum antigo, afinal. Não tinha ideia de nada desses detalhes que acabei de descrever. Fui conhecer mais a respeito da banda e de Sandman só por causa de "In Spite of Me". E por causa do filme, indiretamente.

Estes dias voltei a ouvir Morphine. Pelo Spotify. E fui imediatamente atrás da canção. Confesso que não lembro quais eram as minhas favoritas no comentado CD que recebi naquele tão distante aniversário. Estou tentando descobrir. Por enquanto, vou repetindo o som do filme.




In Spite Of Me

Last night I told a stranger all about you
They smiled patiently with disbelief
I always knew you would succeed
No matter what you tried
And I know you did it all
In spite of me
Still I'm proud to have known you
For the short time that I did
Glad to have been a step up on your way
Proud to be part of your illustrious career
And I know you did it all
In spite of me, in spite of me
Late last night I saw you in my living room
You seemed so close but yet so cold
For a long time I thought that
You'd be coming back to me
Those kind of thoughts can be so cruel
So cruel
And I know you did it all
In spite of me, in spite of me